Segundo diretor da Abimaq, ?bancos privados não querem correr o risco de serem avalistas?
O fator crucial que está fazendo com que vários setores reduzam os investimentos programados para este ano é a falta de crédito destinado às empresas para tocar esses projetos, alertam empresários. Na semana passada, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou que pretende desembolsar de R$ 100 bilhões a R$ 120 bilhões este ano para investimentos, dos quais cerca de R$ 50 bilhões vão para a Petrobrás. Em 2008, os desembolsos para empresas somaram R$ 92,2 bilhões.
Essa maior oferta de recursos anunciada pelo BNDES não está chegando às empresas. "Só companhia impecável está conseguindo crédito hoje", afirma o diretor de Financeiro da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Nogueira. Depois do início da crise, o setor refez as contas dos investimentos programados para este ano. Eles deverão somar R$ 6,4 bilhões, cifra quase 30% menor que a aplicada em 2008.
"Dinheiro há no BNDES, mas os bancos privados não querem correr o risco de serem avalistas do financiamento", conta Nogueira. Entre os segmentos que mais pretendem reduzir os investimentos, ele aponta os fabricantes de equipamentos para as usinas de açúcar e álcool, máquinas agrícolas e máquinas para a indústria têxtil.
O quadro é semelhante na indústria química. "Não estamos cancelando investimentos, mas reavaliando cronogramas", diz o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Nelson Pereira dos Reis. O plano inicial traçado pelas empresa do setor era aplicar US$ 12 bilhões em novos projetos entre 2009 e 2002 era investir. "Agora poderá ser até 2014 ", prevê o executivo."Como os nossos projetos são de longa maturação, mercado para os nosso produtos sempre vai existir." Ele observa que os investimentos da Petrobrás podem atenuar a queda.
COMMODITIES
Entre os setores que estão mais dispostos a reduzir investimentos estão os produtores de matérias-primas básicas, como mineração, aço, papel e celulose, por exemplo, cujos preços despencaram nos últimos meses no mercado internacional.
O setor de mineração, por exemplo, que planejava investir R$ 131 bilhões até 2012, prevê a suspensão do equivalente a 5% desse total. "Se a crise for pior, esses projetos não sairão do papel", diz o gerente de dados econômicos do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Antonio Lannes.
"Todo mundo está dando uma travada na produção", diz o presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Marco Polo de Mello Lopes. Segundo ele, várias usinas anteciparam as paradas diante da queda na demanda por aço. É que quase 80% da produção do setor é consumida na construção civil, na indústria automotiva e pelos fabricantes de bens de capital.
O presidente do IBS não se arrisca a fazer projeções de cortes nos investimentos neste momento, mas acredita que os projetos ainda em fase de estudo podem ser os mais afetados. Nesse rol, estão investimentos que somam US$ 13 bilhões.
Para a presidente da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), Elizabeth de Carvalhaes, enquanto os estoques de celulose estiverem elevados no mercado internacional será difícil dar início a um novo projeto de investimento. Hoje o nível de estoques está 50% acima do normal. "Com estoques elevados , a colheita das florestas é adiada."
A executiva diz que entre 2008 e 2012 estavam programados investimento de US$ 9 bilhões. "Investimentos na área florestal serão postergados neste semestre." Para ela, o mais difícil neste momento é não conseguir ter um horizonte do mercado para fazer previsões.
A falta de previsibilidade também afeta outro setor que depende muito mais do mercado interno e da renda do emprego: a indústria de alimentos. Na análise do diretor econômico da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia), Denis Ribeiro, os empresários serão daqui para frente mais seletivos nos investimentos e podem adiar parte dos novos projetos. No ano passado, os o setor investiu US$ 14,6 bilhões. Para este ano, estima-se uma redução da ordem de 25%.
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